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Lavoura, Tesoura e Sanfona

Na crônica de hoje, o historiador Romildo Pereira de Carvalho conta um pouco da história de seu pai, Ramiro.

Nascido há 75 anos no agreste baiano, na cidade de Lajedo Alto, Ramiro Pereira de Carvalho, filho mais velho de Manoel e Amárias, que constituíram uma família numerosa, com 13 filhos, procurando novas perspectivas de uma vida melhor, deixaram o sertão nordestino na década de 50 e passaram a residir na região de Cândido Mota, morando em vários bairros (água do Dourado, Porto Almeida, água da Figueirinha…) antes de fixar residência em nossa cidade no ano de 1971.
Inspirado em seu pai Manoel Pereira de Carvalho, que cortava cabelo dos filhos e tinha as ferramentas em casa, e em um amigo seu, José Brito, que cortava muito bem em um salão na famosa ‘venda’ de Manuel Bertolino, na água do Dourado, ainda criança Ramiro, que trabalhava na lavoura, começou a aprender a profissão. Primeiramente, começou a cortar os cabelos dos irmãos. Por ser o mais velho, também cortava dos vizinhos e dos amigos. No início cortava cabelo por ‘hobby’, uns pagavam pelo serviço, outros só falavam muito obrigado.
No início da profissão cortava os cabelos em lugares inusitados, como debaixo de árvores, em ‘paió’, que nos dias de semana servia de galinheiro, mas aos sábados e domingos se transformava em salão. E em meados da década de 60, percebendo que tinha jeito para a profissão e que com esta, conseguia sempre levantar alguns ‘trocadinhos’, resolveu construir seu próprio salão no distrito de Porto Almeida. Trabalhou lá durante cinco anos, passando a dedicar-se à nova profissão aos sábados e domingos.
Em outubro de 1965 resolveu constituir uma família e casou-se com Maria de Lourdes Miguel, e da união nasceram três filhos; Helena Aparecida de Carvalho, psicopedagoga, educadora, aposentada na rede municipal, mas continua a lecionar na escola ‘Primeiros Passos’; Romildo Pereira de Carvalho, seu companheiro de trabalho há 38 anos, mesmo este sendo graduado em História e bacharel em Direito, ainda continua abraçando a profissão ao lado do pai; e também teve outro filho, o Rodnei, que infelizmente faleceu aos três meses de idade, em 1972.
Além de ter transmitido os segredos da profissão ao filho Romildo, Ramiro também ensinou a profissão ao vizinho e amigo Dejair Ferreira, que se tornou um excelente profissional; ao amigo Gerônimo Santo Faria e também ao neto Michel Carvalho, embora ele tenha trilhado para a área de administração de empresas. O outro neto Caíque chegou a trabalhar por um tempo com o avô e tio, e depois partiu para a engenharia elétrica, trabalhando na área.

Desde 18 de janeiro de 1971, Ramos Cabeleireiros encontra-se no mesmo endereço, na rua Coronel Valêncio, n° 313. O ‘nome fantasia’ do salão é em decorrência do precursor do salão, Ramiro, ter nascido em um Domingo de Ramos, daí a origem de seu nome.
O já cândido-motense Ramiro se sente realizado na profissão. Em 1979, querendo crescer ainda mais dentro da profissão, foi a cidade de São Paulo fazer curso de cabeleireiro profissional, dentro das novas técnicas, em 1984 sagrou-se campeão em um ‘Festival Interestadual de Cortes e Penteados’ realizado em Marília, concorrendo com 27 participantes de toda região, inclusive norte do Paraná, sendo destaque.
Paralelamente à sua profissão, Ramiro se destacou na área musical. Ele toca acordeon, e na música teve várias formações de bandas, como a R.M Show, Tô Ki Tô e por último a Banda Talismã. Sua influência musical também nasceu de seu pai. Ramiro começou como autoditada tocando violão, logo passou para a sanfona e dentro de pouco tempo, o ainda jovem Ramiro começou a tocar em público, em bailes de barracas, casamentos, barracões de retiro de leite.
Os casamentos em bairros rurais da década de 60 e 70 eram abrilhantados pelos ‘bailes de barracas’, onde o conjunto de forró que alegrava a festa se apresentava em cima de uma mesa de cozinha e os convidados faziam a poeira levantar com os baiões, xotes e arrasta-pés. Nesta época o som era acústico, não se usava instrumentos elétricos; era o famoso ‘forró pé-de-serra’, os instrumentos que se destacavam além da sanfona, eram pandeiro, surdo, triângulo e zabumba.
Há mais de 60 anos Ramiro vem usando suas mãos, seja para embelezar o visual de seus clientes, seja para deslizar pelos teclados de sua sanfona, propagando a alegria que a música traz e, como dizia sua mãe, dona Amárias Alves, ‘o que seria do mundo se não fossem os músicos, que trazem alegria a todo o povo sofrido’.
Quando comprou o salão, na rua coronel Valêncio Carneiro, o estabelecimento pertencia ao barbeiro Jorge Vivot, que o incentivou a comprar e até facilitou o pagamento. ‘Compra que você paga’, frisava o saudoso e querido Jorge Vivot.
Nestes 49 anos no endereço, milhares de clientes-amigos passaram no local e milhares de amigos conhecidos também, seja para tomar uma aguinha, seja para ‘jogar’ umas conversas, relembrar o passado, falarem sobre música…
Com as bandeiras da ‘Tradição, Técnica e Eficiência’, a dupla Ramiro e Romildo vêm perseverando na profissão, sentindo-se agraciados de fazerem do local de trabalho, um reduto de belas amizades, onde muitos amigos passam para trocar umas ideias, pedir um favorzinho ou uma indicação.
Enfim, plantando a semente do bem, vivendo com o trabalho e as belas e verdadeiras amizades, há clientes que frequentam o salão desde a época do Porto Almeida e desde 1971; também clientes que eram do Jorge Vivot e que foram embora de Cândido Mota e quando retornam, nos feriados prolongados e finais de ano, aparecem para o corte do cabelo e bate papo. Amigos-clientes de vários lugares, do Acre, Rondônia, Mato Grosso, Campo Grande, São Paulo, Osasco, Campinas, São José dos Campos… parecendo uma ‘Torre de Babel’ do bem, com vários sotaques.
Tem até um amigo-cliente de longa data que todo final de ano aparece para cortar o cabelo e sempre traz um bom livro de presente. O trabalho é a parte mais gratificante na vida humana! Louvado seja sempre o nosso Amigo e Senhor Jesus Cristo! Paz e Bem!

Romildo Pereira de Carvalho é historiador em Cândido Mota.

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