Pedro Abranches é compositor, ator e psicólogo. Paulinho Valério é músico, compositor e desenhista. Amigos e parceiros de longa data, são nascidos em Palmital e decidiram homenagear os 100 anos, completados em 21 de abril de 2020, de emancipação da terra natal, gravando uma música e produzindo o curta-metragem ‘A eterna noiva do Planalto’.
É um costume antigo apelidar oficial e carinhosamente os municípios, ressaltando-lhes as características, valorizando-lhes os atributos e, em alguns casos, projetando-lhes o futuro. A noiva, a mulher prometida, é símbolo de um porvir promissor, da esperança a se concretizar. O agora centenário município situa-se num solo bem plano na região central do Vale do Paranapanema, no oeste do estado de São Paulo. Provavelmente, estes foram dois dos motivos que renderam a Palmital o epíteto de ‘A Noiva do Planalto’.
A homenagem de Abranches e Valério surgiu como possibilidade em 2019 e tornou-se realidade agora para preencher o vácuo de manifestações populares culturais pelo Centenário de Palmital. A partir deste dia 19 poderá ser vislumbrada em diversos veículos de comunicação e redes sociais.
O projeto foi posto em prática com o advento da quarentena imposta pelo Covid-19. Observando os cuidados necessários, incluindo o respeito ao distanciamento, a dupla concebeu todo o processo criativo remotamente. Os parceiros não se encontraram fisicamente em nenhum momento.
Já o curta cita de forma poética acontecimentos relevantes da história palmitalense, como o imbróglio jurídico da posse da Fazenda Palmital, onde se localiza a área urbana do município, e cujo processo judicial ainda não foi totalmente encerrado; a trágica ‘Chacina de 1922’, na qual disputas políticas levaram ao assassinato de sete pessoas nas proximidades da Câmara Municipal; e as devastadoras geadas de 1942 e 1975. O filme também destaca o Carnaval e a Folia de Reis, entre outras tradições culturais do município.
O audiovisual traz ainda a personificação da Noiva, representada pela jovem estudante Maria Fernanda Albuquerque Valério, filha de Paulinho. A música traz na letra uma única citação nominal: a do saudoso locutor Jota Almeida, definido pelos autores como, pioneiro e ‘um ícone da comunicação e divulgação musical e cultural de Palmital e que não recebera ainda uma devida reverência’. Aliás, cabe ressaltar que a produção foi toda realizada na própria cidade e por músicos e técnicos locais em 5 meses de intenso trabalho.
Por fim, é uma obra com senso de humor e algumas surpresas, que promete agradar ao público. A nota triste fica por conta do falecimento da Sra. Darci Damásio de Lima Maimoni, que fez a noiva envelhecida e faleceu 15 dias após ter suas imagens registradas para participação especial no curta.
A ETERNA NOIVA DO PLANALTO
A MÚSICA DO CENTENÁRIO DA CIDADE DE PALMITAL/SP
(Pedro Ramos e Paulinho Valério)
Eu sou o amor proibido da eterna noiva do planalto,
Desde a terra vermelha batida até a chegada do asfalto.
Noiva do planalto há 100 anos,
Noiva do planalto e seus planos.
Meu verso te enobrece e me entristece, cada
Cidade tem o Bob Dylan que merece.
Numa tempestade de poeira de um reino distante você chegou,
O céu carregado, exaltado, vendo seu destino ele chorou.
Chuva que caía, lágrimas de alegria o solo abençoou,
E o vestido estonteante da noiva errante a terra manchou. REFRÃO
Certa noite a prometida com uma cerimônia linda ela sonhou,
Numa capela às margens do Paranapanema a bela entrou.
O buquê arremessado, na palmeira enroscado, o mundo desabou,
Aliança de ouro e com vozes de um vibrante coro a noiva despertou. REFRÃO
Eis que de repente a donzela supostamente enriqueceu,
Em meio a tantas promessas e cafezais em flor surpreendeu.
O trem, a estrada de ferro de longe também trouxe erva daninha,
A maldição de até hoje não saber se eu tô pra lá ou pra cá da linha. REFRÃO
E o vento levou e na corneta o Jota Almeida anunciou um bang-bang no cinema.
O footing na praça rolando e a noiva tentando resolver seu problema.
No filme ela se via em cenas de euforia com um forasteiro apaixonado,
Um amor, o Cowboy que na chacina de 22 foi baleado. REFRÃO
Em uma quermesse assombrando aparece sob a luz de uma lamparina,
Um mascate se dizendo o legitimo herdeiro do coração da doce menina.
Todos assustados defenderam ela armados e tudo acabou
Com a mira certeira pois a oração da benzedeira o mal expulsou. SOLO – REFRÃO
Ela seguiu nessa lida procurando pra sua vida um feliz final.
Nos bagaços da usina, pelas festas juninas, e em blocos de carnaval,
Entre as violas caipiras e guitarras de rock no réveillon do pontilhão,
Pelas bandeiras de Reis, pra descobrir de uma vez onde estaria a sua paixão.
Uma luz brilhou e sua alma iluminou num momento de fé,
Depois de uma trágica geada com a vida retomada prometeu a mulher:
– Jamais me casarei porque sei que o meu coração e minha memória
É de todo aquele que conta, honra e respeita minha história. REFRÃO