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Doutor, eu preciso mesmo tirar a veia safena? Ela não vai me fazer falta no futuro?

Essas são perguntas que o doutor Arnaud Rivayrand, cirurgião vascular e ecografista vascular, recebe diariamente em seu consultório.

Essas são perguntas que recebo diariamente no consultório. A respeito da retirada ou não da veia safena na cirurgia de varizes.

Por que é possível retirar a veia safena?

Em cada perna, temos 2 veias safenas: uma maior que vai do pé até a região da virilha, chamada veia safena magna, e uma menor, que vai do pé na parte de trás da perna até o joelho, a veia safena parva. O sistema venoso das pernas é composto por 3 conjuntos de veias: as veias superficiais, as profundas e as perfurantes. As veias safenas são as principais veias superficiais das pernas, e se ligam ao sistema profundo através das veias perfurantes.
A maior parte do sangue que retorna dos pés para o coração passa pelas veias profundas, que correm próximas à musculatura. Sendo assim, uma menor fração do sangue passa pelas veias superficiais e por isso, quando há indicação de correção da hemodinâmica das veias dos membros inferiores, é que podemos retirar ambas as safenas e ainda as varizes colaterais de uma perna sem ter prejuízo no retorno sanguíneo.

Quando a safena deve ser retirada?
A indicação de safenectomia varia bastante entre os cirurgiões vasculares. Mas é consenso que, quando a veia se encontra extremamente dilatada e com refluxo significativo, ela deve ser tratada. O refluxo ocorre quando o sangue, ao invés de ir em direção ao coração (para cima), ele vai em direção ao pé (para baixo). Ele aparece quando as válvulas da veia já não funcionam de forma adequada e as veias tornam-se tortuosas e dilatadas.
A maioria dos cirurgiões não retiram a veia safena quando esta apresenta diâmetro normal, pouco ou nenhum refluxo, sempre na dependência dos sintomas do paciente e do grau da insuficiência venosa que o acomete. Tanto o tamanho da veia quanto a possibilidade de refluxo são avaliados através de exame de Ultrassom doppler venoso pelo cirurgião vascular.

A retirada da veia safena pode causar algum outro problema?
Infelizmente, a retirada da veia safena pode cursar com complicações. A principal delas está relacionada com a lesão dos nervos safeno e sural e dos vasos linfáticos que acompanham as veias safenas.
O nervo safeno é um nervo que acompanha a veia safena magna e que pode ser lesado durante a retirada da veia, especialmente quando esta é retirada desde a virilha até o tornozelo. A lesão do nervo safeno causa sensação amortecimento e formigamento (parestesias) da face interna da coxa e perna, que costuma ser transitória e melhorar com o decorrer das semanas após o procedimento.
Já a lesão ao nervo sural pode ocorrer durante a retirada da veia safena parva, levando a amortecimento e dor em queimação na face posterior da perna em até 4% dos pacientes operados.
Quando ocorre lesão aos vasos linfáticos, pode haver inchaço da perna no pós operatório. Na maioria das vezes, esse inchaço é reversível.

E se no futuro eu precisar de uma ponte de safena no coração?
Um dos receios dos pacientes que precisam ser submetidos à retirada da veia safena é quanto à necessidade do uso dessa veia no futuro.
A veia safena é utilizada em muitas cirurgias para substituição de segmentos de artérias que estão obstruídos ou danificados, sendo considerada o melhor substituto para artérias em geral.
Hoje, com o envelhecimento da população, aumentaram os índices de doenças oclusivas das artérias, seja das artérias do coração, pescoço ou membros inferiores, que levam a problemas com infarto do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais (derrames), dores para caminhar e gangrenas. Em alguns desses casos, a veia safena pode ser utilizada como uma ponte (ou enxerto) para transpor uma área que esteja entupida, devolvendo a circulação para a área que estava sem sangue; esta técnica é a famosa ponte de safena.

Além disso, com a crescente onda de violência que acomete nosso país, aumentaram os casos de lesões às artérias, seja por conta de acidentes automobilísticos e ferimentos por arma de fogo ou armas brancas. Quando ocorre a secção de uma artéria por um desses traumas, também é possível utilizar a veia safena para reconstituir a circulação e evitar inclusive a perda de um braço ou de uma perna.
Pensando nisso, alguns cirurgiões vasculares propuseram técnicas de preservação da veia safena nas cirurgias de paciente com varizes. Esses cirurgiões acreditam que, mesmo quando existe refluxo na veia safena, em alguns casos é possível eliminar as causas desse refluxo melhorando a função da veia.
Porém, quando a veia safena já está tortuosa e com o diâmetro muito alterado, não há benefício em mantê-la, já que suas paredes já estão danificadas e não servirá como substituto de uma artéria em caso de necessidade. Nesses casos ela pode e deve ser retirada.

Conclusão
A retirada da veia safena deve ser realizada apenas nos casos em que a veia apresenta-se dilatada e com refluxo. Ela pode e deve ser retirada nessas situações, não causando nenhum prejuízo à circulação da perna, pelo contrário: sua retirada irá favorecer o retorno do sangue ao coração por veias saudáveis. Assim como todo e qualquer procedimento cirúrgico, a safenectomia pode levar a complicações, como lesão de nervos sensitivos e vasos linfáticos, porém, na maioria das vezes isso não ocorre.
O grande prejuízo à pessoa que retirou todas as safenas (se retirou ambas as safenas magnas e parvas das duas pernas) é a falta de substituto arterial nos casos de necessidade de realização de pontes de safena. Mesmo assim, existem alternativas ao uso da veia safena como enxertos artificiais, largamente difundidos e produzidos com materiais como PTFe e Dacron, além do uso de veias de outras localizações, como as dos braços.
Se ainda tiver dúvida quanto à retirada da veia safena, converse com o seu Cirurgião Vascular de confiança. Com certeza ele irá esclarecer o motivo pelo qual a veia safena deve ser retirada no seu caso.
Até a próxima semana!

  • Dr. Arnaud Rivayrand – CRM 167131 é Cirurgião Vascular e Ecografista Vascular.

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