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Crônica: Paulo Rorato, o rei dos laços afetivos

confira a crônica abaixo

Neste ano, nossa solidária cidade estará completando seu centenário.

Nestes 100 anos, vários cidadãos são dignos de serem sempre lembrados, pela boa semente que semearam aqui, deixando-nos um grande legado.

Em uma extremidade da rua Ângelo Pípolo, hoje denominada rua São Caetano, em uma chácara se destacou o nosso saudoso frei Paulino de Jundiaí, sobre o qual, já escrevi uma crônica da sua missão aqui na nossa cidade.

Na outra extremidade, no final da rua Ângelo Pípolo, no número 1840, também em uma chácara, se destacou o inesquecível boiadeiro, acho que ele gostaria muito desse tratamento, devido ao glorioso tempo que teve na “lida” com o gado, seja na criação, apartando os bezerros, na ordenha das vacas, era bom no laço e nos laços afetivos.

Também ajudando nossas entidades filantrópicas (igreja, Asilo, Frei Paulino, Santa Casa), nos famosos leilões de gado.

Estou falando do popular, do sereno e sempre de fala mansa, o saudoso Paulo Rorato, que fez sua morada celestial no dia 5 de janeiro de 2022, aos 88 anos.

Sempre atrás, ao lado e muitas vezes à frente do homem, está uma valorosa mulher. Foi assim com o ‘seo’ Paulo, agraciado no matrimônio com a batalhadora e sempre companheira, a querida Maria Ceciliato Rorato, no ano de 1958.

Desta bela união, nasceram os filhos Paulo César, Janice, Adriano e a Márcia, que lhes deram os netos Guilherme, Carolina, filhos do Paulo César e da saudosa Magda, que também já fez sua morada celestial; o neto Felipe, filho do Adriano e da Silvinha, esta foi minha amiga de classe na época do ginásio, no Grupinho; o neto Ângelo, filho da Márcia e do nosso inesquecível, o saudoso Nei, que sempre fez parte do nosso círculo de amizade, aliás toda a sua bela família (Ferreira Araújo, Viva!). Quando o Ângelo nasceu, gostei do nome por me lembrar de um ser angelical. A Luise, filha da Janice, completa o belo quadro de netos.

Paulo, como sempre lidava com o gado, juntamente com o irmão Albertino Rorato, este, teve fama de ter uma força acima da média, e com os amigos Jovino Arantes e Guerino Beviláqua, montaram um açougue – hoje pertence ao também amigo Lairton Almeida, que comprou deles em 1977 – “O Paulo era demais”, destacou o amigo Lairton.

Em 1964, o Paulo e seu irmão Albertino receberam de sua mãe, a senhora Amélia Manfio Rorato, a Chácara Santo Antônio, no final da rua Ângelo Pípolo, que até hoje pertence à família do Paulo. O nome da chácara é em homenagem ao pai deles, o saudoso Antônio Rorato.

Houve uma época em que o Paulo vendia leite na cidade usando uma carroça como transporte. O meu amigo Augusto Dionísio, que também é amigo do Adriano, falou que o Adriano também ajudava a entregar o leite.

Sempre mostrando seu lado fraterno, a dona Maria e o Paulo doavam leite para as pessoas carentes, que não tinham condições de pagar, para sustentarem seus filhos.

Em sua pequena chácara, o casal conseguiu sustentar sua família e também ajudar outras famílias no sustento de seus filhos. Além da venda do leite, dedicaram à produção de arroz, maracujá e café, planta essa que trouxe os italianos da família ‘Rorato’ e da família ‘Ceciliato’ para a nossa região, vindos da província de Veneza.

O Paulo nasceu na Água do Almoço. Seus pais Antônio e Amélia, tinham uma propriedade de terra, onde doaram uma parte para a construção da escola e da igreja, o altruísmo sempre está presente nesta generosa família.

Falando em generosidade, o amigo Paulo, antes de desenvolver diabetes, foi doador de sangue. A dona Maria Kono, mãe do nosso amigo Hélio, foi uma das que recebeu sua doação de sangue. Ela sempre lhe fora grata; levava quase que semanalmente para a sua família, legumes e verduras que cultivava em seu próprio quintal.

Quando o cidadão é do bem, e quer o bem aos seus, aprende a fazer de tudo na vida sem reclamar. Sendo assim, o Paulo teve um tempo em sua vida que foi alfaiate, trabalhou com o famoso alfaiate aqui da nossa cidade, o senhor Antônio Oliveira, pai do meu amigo ‘Dudu Nobre’ (Eduardo Oliveira), do meu irmão em Cristo, o Evandro da Sandrinha, da saudosa Magda, esposa do Paulinho Rorato e também pai do Edélcio.

Também teve um tempo que o Paulo era fretista, chegou a levar areia com um caminhão Studebaker de um cunhado seu, para a construção do Estádio do Maracanã.

O filho do Paulo e da dona Maria, Adriano, influenciado e inspirado pela dedicação do pai, resolveu partir para a criação de frango de corte e fabricação de ração, hoje conhecida ‘Ração Piáia’, com o aval e a bênção dos pais.

O nome ‘Piáia’ é uma carinhosa homenagem ao próprio pai, porque esse era o seu apelido.

Muito gratificante compartilhar com você, caro leitor, cara leitora, belas histórias, extraindo o melhor das pessoas. No caso do ‘Piáia’, fica mais fácil ainda porque ele deu o seu melhor para a família e para a nossa sociedade. Tivemos o privilégio de tê-lo como cliente diferenciado no nosso salão ‘Ramos Cabeleireiros’ , sempre agradável, boa conversa, com a simplicidade de um boiadeiro, sem vaidades, e fala mansa.

Seu filho Adriano, formado em medicina veterinária e com várias especializações, chegou a trabalhar em uma multinacional.

Em 1986, quando fui prestar vestibular em Londrina, fiquei na pensão em que ele morava, cidadão empreendedor, à frente, na granja de frango e na produção de rações.

O Paulinho lembra bem o pai, fala mansa e ‘muito família’. Mesmo aposentado na Usina Nova América, ainda trabalha com o transporte da ração e na criação de frango. Está sempre batalhando pelo sustento da família. O filho Guilherme, formado em Zootecnia, veio somar junto à família, assim como a Silvinha e o Felipe (graduado em Administração), a esposa e o filho do Adriano, também trabalham na empresa. A filha Carolina, assim como o tio Adriano, formou-se em Veterinária e deu início à sua carreira profissional trabalhando em uma multinacional.

A Janice, confesso que não tenho muito contato com ela, mas a sua simpatia é contagiante. Sua filha, Luise, sempre muito ligada aos animais, demonstrou desde cedo sua grande aptidão para a Medicina Veterinária. E, assim, deu início a sua formação seguindo a profissão da maioria dos membros da família.

A Márcia estudou comigo na Unesp de Assis, algumas vezes íamos juntos de carro até a faculdade. Ela cursou Letras e aprofundou seus estudos no italiano. Fez mestrado e doutorado na Unesp e pós-doutorado na Itália, onde morou por algumas vezes. Reside em Londrina e leciona na UEL há mais de 24 anos. Seu filho, Ângelo, dedica-se ao estudo da Viticultura e Enologia, legado ancestral de seu tataravô italiano do qual carrega o nome em sua homenagem.

A dona Maria conheço pouco, só a via quando ia buscar a Márcia e o Adriano para irmos até a Unesp. Após cursar Veterinária, o Adriano começou a fazer História com a gente, mas sua correria o fez desistir. Sei que a dona Maria sempre arregaçou e, ainda ‘arregaça as mangas’, lidando com a casa e com os frangos, tempos atrás. São ‘tutti buona gente’, ou seja, ‘todos boa gente’!

Eis um pouquinho do nosso boiadeiro Paulo Rorato, que como diria Santo Agostinho, “foi para o outro lado do caminho”.

Aos familiares e amigos fica a lembrança do legado que nos deixou, sempre dando o seu melhor.
Falando em lembrança, a Márcia compartilhou comigo, várias memórias afetivas suas, uma em especial, quando ela fecha os olhos, seu coração vê seu pai carregando várias crianças (parentes ou não) em sua carroça, ele tinha um amor imenso pelas crianças, talvez a entrega do leite o aproximou mais delas.
E por fim, me disse que o significado latino da origem da palavra ‘Rorato’ é Carvalho, esta é sinônimo de robustez e resistência diante das adversidades. Por sinal, esta crônica é assinada por uma Rorato e um Carvalho.
Terminando, quero parafrasear a bela letra da música ‘Boiadeiro’, do Gonzagão e do Gonzaguinha – “Vai boiadeiro que a noite já vem, deixa o seu ‘gado’ que será bem cuidado aqui, dos céus você, nosso bom boiadeiro, derrame suas bençãos para que aqui o campo continue verdejante!”

Paulo Rorato, uma alma boníssima para morada celestial. A pessoa quando vai, leva um pouquinho da gente e deixa um pedaço seu em nossos corações, passando a viver intensamente dentro de nós.

A sua alma vive mais serenamente junto a Deus, quando as pessoas que ficam aqui enxugam as lágrimas e continuam cultivando as boas lembranças e dando sequência à sua vida. Usando uma metáfora de boiadeiro ‘colocam o arreio, montam em seus cavalos e saem galopando pelos campos verdejantes’. Eis o mistério da nossa fé!

Romildo Pereira de Carvalho, cabeleireiro, graduado em História, bacharel em Direito e colaborador do jornal e portal O Diário do Vale.
Marcia Rorato

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