Crônica: Triste fim da primavera

A primavera chegou com uma condição: “não se apresente mais a esta rotina diária as dores que ficaram da última estação!”, disse. E assim desabrocharam os Ipês: amarelos, brancos, rosas, roxos…

Chegaram as flores com um tanto de amor para compartilhar. Elas trouxeram a esperança de sentimentos bons se espalhando por todo canto. Era um tal de sorrisos, abraços, sinceridades, aqui e ali. Em cada esquina se via no mínimo um aperto de mão, acompanhado de uma piscadela. As flores cantam como nos filmes. Despertam sentimentos contidos. Felicidade em seu estado mais puro.

Quando chegou a primavera, com ela veio a euforia: daquela que nos faz acreditar fielmente que para tudo existe uma solução. A cidade, cheia de cores, se torna mais leve. Ruas molhadas exalam cheiro da terra e trazem boas lembranças. Crianças correndo nas praças. Arco-íris colorindo o fim de tarde.

O inverno acabou de ir embora. Dias mais curtos e noites mais longas e frias. Esse ano – no passado também -, o inverno foi para esquecer! Ventos fortes judiavam daquelas pessoas que não têm onde se abrigar. Algumas nem resistiram e partiram (talvez para um lugar mais aconchegante).

Quando apareceu, essa estação mais fria afirmou que iria resolver as dores que o Outono deixou pelo caminho. Prometia ela acolher ao invés de afastar. Com seus dias gelados e madrugadas de geada, iria recolher as folhas secas que estavam no chão e replantar o que ficou perdido com os dias quentes do verão… Mais um inverno passou sem cumprir o combinado.

Atenção!

A primavera chegou. Estação mais bonita do ano. O lugar que a mais bela flor desse jardim finalmente acorda, olha para o mundo e diz: “vamos lá, é hora de ser feliz!”.

Chuva, ventania, alagamento, bombas, guerra, desabrigo…desamor.

Lá se vai a primavera, nem bem chegou e já anuncia seu fim. Vai deixando o prometido de lado, colocando todas as nossas expectativas nas próximas estações. Como se elas também tivessem cores, flores e esperanças para desabrochar.