O Diário do Vale - A Região no Mundo!
Search

Louvado sejas, meu Senhor, pelo nosso irmão, o Papa Francisco.

Quando eleito, ouviu do Cardeal brasileiro, Cláudio Hummes, a exortação que marcou sua missão: “Não te esqueças dos pobres.” Escolheu, então, pela primeira vez na história, o nome do pobrezinho de Assis, Francisco, sendo o primeiro jesuíta a assumir o papado, tornando-se o 266º sucessor de Pedro e, sem dúvidas, o jesuíta mais franciscano da história.
  • Frei Décio Pacheco Bezerra

No dia 13 de março de 2013, eu, Frei Décio, estava realizando missões franciscanas no bairro de Cangaíba, em São Paulo. Caminhava pelas ruas do bairro quando ouvi pela primeira vez, de manhãzinha, o nome do novo papa: ele era um argentino. Jorge Mario Bergoglio, nascido em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, era um nome que já me era familiar — havia sido secretário da redação final do Documento de Aparecida, na V Conferência do CELAM (Conferência Episcopal Latino-americana e caribenha), em 2007, e sempre demonstrou um amor profundo pelos pobres e pela simplicidade evangélica. Quando eleito, ouviu do Cardeal brasileiro, Cláudio Hummes, a exortação que marcou sua missão: “Não te esqueças dos pobres.” Escolheu, então, pela primeira vez na história, o nome do pobrezinho de Assis, Francisco, sendo o primeiro jesuíta a assumir o papado, tornando-se o 266º sucessor de Pedro e, sem dúvidas, o jesuíta mais franciscano da história.

Iniciou seu pontificado exortando para que fossemos uma “Igreja em saída”, missionária, que vai ao encontro dos marginalizados e excluídos, em vez de esperar que venham até ela. A Igreja deveria ser um sinal de misericórdia, justiça e transformação, comprometida com os pobres, os doentes e os necessitados, colocando-se em movimento, seguindo o exemplo de Cristo, para levar o Evangelho de forma concreta e sem medo de se envolver nas realidades mais complexas do mundo. Fez isso plenamente, visitando lugares e povos nunca antes visitados por um Papa, dialogando de uma forma nunca antes vista na história. Sua primeira viagem missionária foi para o Brasil para participar da 28ª Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro: “Eu os convido a serem revolucionários! Revolucionários no sentido de mudar a mentalidade, de não se conformarem com as injustiças, com a violência, com as desigualdades. Sejam audaciosos, sejam criativos! Que não se deixem vencer pela indiferença.”, disse aos jovens. Com alegria e bom humor, comentou sobre a acolhida calorosa dos brasileiros e, referindo-se à eterna disputa entre brasileiros e argentinos, principalmente no futebol, disse: “Se o Papa é argentino, Deus é brasileiro!”. Celebrou a sua Páscoa definitiva no Vaticano em 21 de abril de 2025, no Ano do Jubileu de Esperança — o último presente que ofereceu à Igreja, como quem parte abrindo portas e não fechando janelas.

Francisco amou tal qual o Pobrezinho de Assis, padroeiro da Itália. Carregou a cruz dos esquecidos, escolheu o caminho dos pequenos, e com um sorriso cansado, mas firme, insistiu: os pastores devem ter “cheiro de ovelha”. Preferia — dizia com frequência — “uma Igreja enlameada e machucada porque saiu às ruas, a uma Igreja doente por estar fechada em si mesma”. E viveu assim: visitando presídios, lavando os pés dos pobres, erguendo a voz pelos migrantes, chorando com os que choram. Foi o Papa da Evangelii Gaudium, que nos lembrou que o Evangelho é boa notícia, não condenação; da Laudato Si’, onde chamou a Terra de “casa comum”; da Fratelli Tutti, que desenhou uma fraternidade sem fronteiras; e de Amoris Laetitia, onde recordou que a misericórdia de Deus não tem medidas nem meritocracia. Também nos ofereceu a Lumen Fidei, concluindo com delicadeza a obra iniciada por Bento XVI; a Christus Vivit, carta de esperança e escuta dirigida aos jovens; a Gaudete et Exsultate, que nos chamou à santidade concreta do dia a dia; a Querida Amazonia, um canto poético e profético por justiça, ecologia e povos esquecidos; e a Desiderio Desideravi, onde nos convidou a redescobrir a beleza da liturgia como encontro com o amor de Cristo.

Mesmo muitas vezes incompreendido e atacado, sempre foi compreensivo. Perseguido, amou. Intolerado, perdoou. Fiel à Tradição, mas atento aos sinais dos tempos, fez com que o ensinamento do Concílio Vaticano II, documento máximo do magistério da Igreja Católica, deixasse de ser apenas um documento e se tornasse experiência viva. Convidou a Igreja a sair de si mesma, a habitar as dores do mundo, a ir às periferias existenciais da humanidade, onde habitam os descartados, os invisíveis, os “sobrantes” de uma lógica que mata. E ali, entre os pobres e os feridos, fez-se ponte, nunca muro. Francisco não reformou apenas estruturas: converteu mentalidades, devolveu o Evangelho ao povo e lembrou que a missão da Igreja não é o poder, mas o serviço.

Agora, quando seu coração descansa, a Igreja recorda o homem que nunca buscou grandeza, mas que se tornou imenso. E parte justamente na Páscoa, no tempo em que celebramos que a vida vence a morte. Porque Francisco viveu a Páscoa todos os dias: foi sinal de recomeço, de luz no meio do luto global, de fé em meio à distopia. Como escreveu Frei Betto, a ressurreição não é só um evento espiritual: é um chamado à ação. “A Páscoa é, por excelência, a celebração da vida que vence a morte. Traz em seu bojo uma mensagem universal de esperança, renovação e possibilidade de recomeço. Essa esperança não é ingênua. Não ignora a dor nem minimiza os sofrimentos. Pelo contrário, nasce justamente no coração da adversidade e como clamor de justiça. Jesus não foi poupado do sofrimento e o assumiu. Do mesmo modo, a Páscoa nos convida a enfrentar as dores do presente com coragem e fé, certos de que a crise, por mais dura que pareça, não tem a última palavra.” Francisco entendeu isso como poucos — e nos ensinou a traduzir a ressurreição em gestos de justiça, de cuidado com os pobres, de resistência à indiferença.

Partiu num mundo ainda ferido: entre guerras atrozes, desigualdades gritantes e juventudes abatidas pelo medo do futuro. Mas deixou um legado teimoso de esperança: a certeza de que o amor, a justiça e a compaixão não podem ser enterrados. Nenhuma crise é definitiva, nenhuma escuridão é total. Como o túmulo vazio, sua vida grita que há sempre um terceiro dia. Suas últimas palavras públicas foram sobre a esperança — dom que jamais pode morrer — e um apelo contra as guerras que rasgam o mundo: “A humanidade não pode mais se permitir a indiferença. A esperança nasce quando os povos se reconhecem irmãos.” Com a voz já fraca, mas a alma ainda inteira, ele nos entregou, mais uma vez, a missão da paz.

Sua vida foi um evangelho vivido em praça pública. E como o santo cujo nome carregou, talvez agora também ele repita em silêncio: “Fiz a minha parte. Que Cristo vos ensine a fazer a vossa.”

Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã a Morte corporal,
da qual nenhum homem vivente pode escapar. (São Francisco)

Vieste sem pompas, irmã morte, de sandálias simples, levar o Papa pobre do povo,
o jesuíta que se fez franciscano, que fez da esperança a última pregação.

Leva contigo quem viu na Terra uma casa comum, quem nos sussurrou que “tudo está interligado” — a brisa que acaricia, o silêncio profundo, a lágrima esquecida do pobre.
Aquele que sonhou com a ternura que une os corações, e soube, em cada olhar, encontrar um brilho do amor de Deus que une todos: povos, línguas, culturas e religiões como irmãos e irmãs.

  • Décio Pacheco Bezerra é frade capuchinho da Província de São Paulo e pároco da paróquia Nossa Senhora das Dores, de Cândido Mota. É colaborador de O Diário do Vale, de Cândido Mota

Ultimas Notícias!

Louvado sejas, meu Senhor, pelo nosso irmão, o Papa Francisco.

Quando eleito, ouviu do Cardeal brasileiro, Cláudio Hummes, a exortação que marcou sua missão: “Não te esqueças dos pobres.” Escolheu, então, pela primeira vez na história, o nome do pobrezinho de Assis, Francisco, sendo o primeiro jesuíta a assumir o papado, tornando-se o 266º sucessor de Pedro e, sem dúvidas, o jesuíta mais franciscano da história.

Leia mais »