A poeta cândido-motense, Vera Lúcia de Oliveira, reconhecida no Brasil e na Itália, acaba de lançar mais um livro. ‘Esses Dias Partidos’ é coletânea de poemas que vem dividida em duas partes – a primeira, ‘O tempo denso’, formada por poemas inéditos, escritos no período mais crítico da pandemia de Covid-19, em 2020, quando a Itália foi o país mais atingido, depois da China, e viveu o confinamento absoluto; e a segunda, ‘Antologia poética’, com textos selecionados pela autora, que reúne poemas recolhidos de seis livros publicados entre 2004 e 2016 (Pássaros convulsos, Entre as junturas dos ossos, No coração da boca, A poesia é um estado de transe, O músculo amargo do mundo e Minha língua roça o mundo). A obra foi lançada pela Editora Patuá, São Paulo, 2022.
A estréia da ensaísta e crítica literária, nascida em Cândido Mota/SP, deu-se com a coletânea ‘A porta range no fim do corredor’, em 1983, ano em que ela passou a residir na Itália, onde se tornou professora de Literaturas Portuguesa e Brasileira na Universidade de Perugia, ao lado de um professor italiano grande conhecedor da cultura lusófona, Brunello De Cusatis. Desde então, publicou 25 livros de poesia e outros tantos de ensaios.
Neste sua mais recente obra, mais uma vez mostra sua devoção aos deserdados da terra, sua solidariedade franciscana aos pobres que hoje estão cada vez mais visíveis nas ruas e avenidas das grandes cidades brasileiras, constituindo um cortejo de desfavorecidos que vivem em cabanas improvisadas ou doadas pelo poder público: mendigos, desocupados, catadores de lixo, moleques e moças malabaristas, vendedores de água e mães em andrajos que exibem seus filhos para comover e convencer alguém que passa a lhe atirar ao menos a moeda de menor valor.
Na primeira parte do livro, porém, sua atenção se deu em relação aos italianos que viu passar em direção ao hospital ou ao necrotério, enquanto fazia a roda da memória girar.
Na segunda parte do livro, constam também os versos do livro ‘O músculo amargo do mundo’ (São Paulo, Editora Escrituras, 2014), por meio dos quais a poetisa transmite a dor que sente ao ver o seu país natal em naufrágio, sem rumo, depois de perdida a batalha da educação nas escolas públicas e privadas, o que tem levado milhares de jovens para o consumo e o tráfico de drogas ou para a prostituição, enquanto os ‘ladravazes de recursos públicos festejam impunes pelos salões da república’.
Autora
Vera Lúcia de Oliveira (1958), formada em Letras pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), campus de Assis, doutorou-se em Línguas e Literaturas Ibéricas e Ibero-americanas pela Universidade de Palermo (1997). Ensaísta e tradutora, organizou antologias de vários poetas, entre as quais se destacam as que ela fez com poemas de Lêdo Ivo, Carlos Nejar e Nuno Júdice. Em 2005, ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras com o livro ‘A chuva nos ruídos’ (São Paulo, Escrituras, 2004).
A autora escreve tanto em português quando em italiano e seus poemas foram publicados em antologias no Brasil, Portugal, Itália, Espanha, França, Alemanha, Romênia e Estados Unidos. Recebeu diversos prêmios pela produção literária, entre os quais o Prêmio Sandro Penna (Perugia, 1988), o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras (Rio de Janeiro, 2005), o Prêmio Popoli in Cammino (Milão, 2005), o Prêmio Literatura para Todos (Brasília, 2006), o Prêmio Internacional de Poesia Pasolini (Roma, 2006) e o Prêmio Internacional de Poesia Alinari (Florença, 2009).
O livro da poetisa cândido-motense pode ser encontrado no site da editora: www.editorapatua.com.br