“Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos”… é o que diz a poesia de Beto Guedes.
Provavelmente no dia 15 ou 22 de setembro de 1922, uma bela família iria curtir a primeira primavera aqui, que estava bem próxima, e semear a boa semente aqui nesta ‘terra roxa de paixão’, assim como diz o poeta e parceiro Moraci Theodoro Ramos.
Nossa cidade ainda era distrito de Assis, conhecida como ‘Vila de Cândido Mota’, antes era chamada de ‘Parada do Jacu’, ‘Posto do Jacu’ e ‘Chave’.
Estou me referindo à tradicional e centenária família ‘Dias da Motta’, do patriarca Manoel Ignácio Dias e da matriarca Francelina Dias da Motta.
Vieram de Manduri/SP, provavelmente a convite de Joaquim Almeida, para desbravar uma fazenda de mais de 200 alqueires.
Maneco Dias, como era conhecido o senhor Manoel, e a Dona Francelina, tiveram nove filhos, o primogênito tinha 18 anos quando chegou aqui, o inovador Lázaro Ignácio Dias. Depois nasceria Oscar Dias da Motta, Mário Dias da Motta, pai do João Motta, um apaixonado pela família, pela cidade e pela roça, pela vida do campo; Alcídia, Alzira, Antônio, José Alfredo, Domingos e João.
O filho Domingos, mesmo com uma boa idade, sempre se lembrava do dia que chegaram aqui, ele tinha 3 anos. Dizia ele: “Quando chegamos aqui de trem, chovia muito e fazia um barulho no teto de zinco do trem”.
Esta chuva foi um bom presságio, de que a vida deles iria dar certo com a lavoura. Compraram uma fazenda na Água da Queixada, “incentivado pelo seu tio Felício Palma”, destaca Domingos Dias. Formaram a fazenda ‘tudo no braço’, contavam os irmãos Domingos e João Ignácio. Começaram a plantar café e a criar porcos; no início os filhos mais velhos, Lázaro, Oscar e Mário ajudavam o pai. Demoraram um tempo para pagar os 112,5 alqueires; depois Maneco comprou mais 20 alqueires para doar em vida para os filhos. Para as duas filhas deu a parte em dinheiro.
Seu filho mais velho, o Lázaro, recebeu 20 alqueires, segundo a revista ‘Centenário Lázaro Ignácio Dias’, de julho 2004.
Lázaro Dias, por ser o primogênito, exercia uma liderança na família e em toda a comunidade. Em 1939 foi nomeado inspetor de polícia, nos bairros da Água da Pinguela e Queixada.
Em 1944 foi fundador da Cooperativa Mista de Cândido Mota Ltda, foi secretário, gerente e presidente por vários anos. Dois anos depois também estava junto na organização da fundação do Asilo São Vicente de Paulo, onde também foi presidente.
Em 1955, participou da fundação do Hospital e Casa de Saúde São Paulo, três anos após organizou a Associação Rural, no ano seguinte, ou seja, em 1959, ajudou na organização da fundação da Cooperativa dos Cafeicultores da Média Sorocabana, a nossa Coopermota, esta atingiu o auge no agronegócio, hoje com várias filiais na região e até do outro lado do ‘Panema’, são 25 no total. Foi presidente por vários anos; seu filho José Dias trabalha há décadas na cooperativa.
Em 1966 promoveu a organização do Sindicato Rural, além de sempre participar do Conselho Agrícola Regional, foi delegado e membro da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp).
O ‘Lazinho’, como era carinhosamente conhecido, eu acho que ele não dormia, igual o padre Alex Nogueira, de Jacarezinho/PR.
Pessoa simples, ‘Lazinho’ sempre esteve envolvido em tudo e defendendo os interesses do homem do campo, era uma lenda, sendo assim foram criadas várias histórias para demonstrar sua simplicidade, como é o ‘causo’ do jogo do Corinthians que foi assistir junto com a outra lenda, o ‘Nelsinho da Farmácia’, lá no Pacaembu. Acabou a partida e ele se desencontrou do Nelsinho; então teria perguntado para um paulistano se ele tinha visto o ‘Nelsinho da Farmácia’. No trânsito de São Paulo, ele pedia calma para os motoristas que ficavam a todo tempo buzinando.
Lazinho sempre foi um homem que andava com as mangas ‘arregaçadas’, sempre pronto com a ‘enxada’ na mão, abrindo caminhos para garantir o sucesso do homem do campo. Foi um empreendedor na época, quando ninguém conhecia esta palavra.
Pedindo ajuda para a nossa solidária irmã em Cristo, a Marlene, viúva do querido Irineu Frazão, filha do seu Mário, ela me disse que seu avô, os queridos Maneco e Francelina tiveram 57 netos e 164 bisnetos e vários tataranetos.

Nestes 100 anos vários herdeiros do Manoel e da dona Francelina, continuam no agronegócio, produzindo alimentos, semeando a ‘boa semente’ que teve início com o ‘Maneco’, que apostou no potencial da nossa Vila, que se tornaria o ‘Gigante Vermelho’, com terras férteis, povo acolhedor, solidário.
Todos nós fazemos parte de uma grande família, filhos e filhas de um mesmo Deus.
Na mesma época chegaram aqui as famílias Belanda, vinda de Itápolis/SP, em 1924, Poleto, Gava, Maschio e Ciciliato, vindo de Olímpia/SP, em 1923, para a Fazenda Graciema, localizada uma parte na Queixada e outra na Pinguela.
A família Zardetto (João, Giácomo, Carmelo e Cipriano também vieram de Olímpia em 1926, para a Pinguela).
Como é agradável compartilhar belas histórias da nossa gente.
Esta crônica teve a colaboração do amigo João Antônio Ferreira da Motta, que exerceu com afinco a presidência do Sindicato Rural de Cândido Mota por vários anos, apaixonado pela sua família, por nossa gente, pelo campo e pelo homem do campo. Também a participação da querida Marlene Ferreira, e colorindo as fotos, o caro parceiro Daniel Gozzi.
Romildo Pereira de Carvalho, cabeleireiro, graduado em História e Bacharel em Direito.