- Ernani Luchini
Quando completei 13 anos de idade, meu pai me chamou e disse que eu tinha que procurar trabalho, emprego. Reação de alegria e aceitação do conselho. Achei. Nada de registro e direitos trabalhistas completos e, trabalho de segunda aos sábados até 18h.
Era possível transferir a escola para período noturno mediante simples apresentação de um ‘Atestado de Trabalho’. A partir daí começou minha jornada. Nunca mais, desde os 13 anos de idade, pedi um único centavo aos meus pais e me lisonjeava de receber o pequeno salário e colocar nas mãos de meus pais que me davam, apenas, o suficiente para um fim de semana que se resumia num simples lanche e um refrigerante.
Com o avanço da idade fui mudando de empregos e fiz carreira profissional na mais conceituada, organizada e estruturada empresa da época, galgando todos os setores da administração interna (fui contabilista, assessor de auditoria e analista de organização e métodos, tesoureiro geral e chefe de recursos humanos, com dezenas de cursos ministrados pela Ocesp – Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo,) na capital paulista.
Banquei meu curso de direito, formando-me advogado em 1982, profissão na qual milito desde 1985.
Essa história não tem o condão de me lisonjear, de modo algum. Mas, como para muitos que tiveram essa vida análoga, de se convir que hoje o sistema condena e , até criminaliza, o pai que encaminha o filho menor para o mercado de trabalho.
Esses dias ri, para não dizer sorri, ao ver uma faixa afixada na frente da sede do Conselho Tutelar com o seguinte slogan: ‘Trabalho não é coisa de criança’. É, sim!
Hoje os menores estão trabalhando nas ‘bocas de fumo’, ‘cometendo pequenos furtos’, ‘se prostituindo’, etc. Parece que a coisa melhorou, não?
- Ernani Luchini, é advogado, membro fundador do Conselho Municipal da Criança e Adolescente do Município de Cândido Mota/1997-1998; membro organizador do primeiro concurso para Conselheiro Tutelar, tendo elaborado as questões de direitos gerais; conselheiro tutelar voluntário, cargo que exerceu até a posse dos conselheiros eleitos, e colaborador voluntário de O Diário do Vale.