O Rotary Club de Cândido Mota realizou na última semana, uma entrevista com a psicóloga clínica Mônica E. S. Lipay. A pauta foi o ‘Setembro Amarelo, relacionada ao mês de conscientização à prevenção ao suicídio. A campanha teve início no Brasil em 2015 e sendo o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio marcado em 10 de setembro.
No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e sua ocorrência tem aumentado muito entre jovens. De acordo com números oficiais, 32 brasileiros tiram a própria vida por dia em média, causando mais mortes que a Aids e a maioria dos tipos de câncer. De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2014, o Brasil está em oitavo dentre os países com maior número de suicídios, atrás de Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Japão, Coreia do Sul e Paquistão.
Confira todos os detalhes sobre esse importante assunto que interfere de maneira significativa na saúde das nossas crianças.
Qual a importância do Setembro Amarelo?
A campanha Setembro Amarelo® salva vidas! O Setembro Amarelo é uma campanha nacional criada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da prevenção ao suicídio. Conscientizar a população e reforçar a importância do combate à depressão e da prevenção ao suicídio, assuntos delicados, mas que certamente salvam vidas e precisam ganhar visibilidade. Embora a campanha seja realizada no mês de setembro, a prevenção ao suicídio deve se dar durante todo o ano. Um dos principais passos para isso é fazer um acompanhamento regular da sua saúde mental. O primeiro passo é reconhecer os sinais de depressão.
Quais são os fatores de risco e os sinais de alerta de quem pensa em suicídio?
Os sinais de alerta descritos abaixo não devem ser considerados isoladamente. Não há uma ‘receita’ para detectar seguramente quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, nem se tem algum tipo de tendência suicida. Entretanto, um indivíduo em sofrimento pode dar certos sinais, que devem chamar a atenção de seus familiares e amigos próximos, sobretudo se muitos desses sinais se manifestam ao mesmo tempo.
- O aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas: Essas manifestações não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real.
- Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança: As pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum, confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro. Essas ideias podem estar expressas de forma escrita, verbal ou por meio de desenhos.
- Expressão de ideias ou de intenções suicidas: Fiquem atentos para os comentários abaixo. Pode parecer óbvio, mas muitas vezes são ignorados:
- ‘Vou desaparecer’
- ‘Vou deixar vocês em paz’.
- ‘Eu queria poder dormir e nunca mais acordar’.
- ‘É inútil tentar fazer algo para mudar, eu só quero me matar’.
- Isolamento: As pessoas com pensamentos suicidas podem se isolar, não atendendo a telefonemas, interagindo menos nas redes sociais, ficando em casa ou fechadas em seus quartos, reduzindo ou cancelando todas as atividades sociais, principalmente aquelas que costumavam e gostavam de fazer.
- Outros fatores: Exposição ao agrotóxico, perda de emprego, crises políticas e econômicas, discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, agressões psicológicas e/ou físicas, sofrimento no trabalho, diminuição ou ausência de autocuidado, conflitos familiares, perda de um ente querido, doenças crônicas, dolorosas e/ou incapacitantes, entre outros podem ser fatores que vulnerabilizam, ainda que não possam ser considerados como determinantes para o suicídio. Sendo assim, devem ser levados em consideração se o indivíduo apresenta outros sinais de alerta para o suicídio.
- Alcoolismo e outras dependências químicas.
- Porte de armas de fogo.
Como podemos ajudar pessoas próximas que apresentam comportamentos suicidas?
- Encontre um momento apropriado e um lugar calmo para falar sobre suicídio com essa pessoa. Deixe-a saber que você está lá para ouvir, ouça-a com a mente aberta e ofereça seu apoio;
- Incentive a pessoa a procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio em algum serviço público. Ofereça-se para acompanhá-la a um atendimento;
- Se você acha que essa pessoa está em perigo imediato, não a deixe sozinha. Procure ajuda de profissionais de serviços de saúde, de emergência e entre em contato com alguém de confiança, indicado pela própria pessoa;
- Se a pessoa com quem você está preocupado(a) vive com você, assegure-se de que ele(a) não tenha acesso a meios para provocar a própria morte (por exemplo, pesticidas, armas de fogo ou medicamentos) em casa;
- Fique em contato para acompanhar como a pessoa está passando e o que está fazendo. Quando você perceber que tem pensamentos de morte, não hesite em pedir ajuda, você pode precisar de alguém que te acompanhe e te auxilie a entrar em contato com os serviços de suporte.
Quando você pede ajuda, você tem o direito de:
- Ser respeitado e levado a sério;
- Ter o seu sofrimento levado em consideração;
- Falar em privacidade com as pessoas sobre você mesmo e sua situação;
- Ser escutado;
- Ser encorajado a se recuperar.
Onde buscar ajuda:
- Caps e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde);
- Upa 24H, Samu 192, Pronto Socorro; Hospitais;
- Centro de Valorização da Vida – CVV 188 (ligação gratuita).
- O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias. A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, é gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.
Se o suicídio é uma questão de saúde pública, por que as pessoas evitam falar sobre o assunto?
Por diversos fatores, alguns incluem o tabu, e o estigma de ser rechaçado. Falar sobre suicídio ainda provoca vergonha e medo por questões culturais arraigadas por séculos. Lutar contra esse tabu é fundamental para salvar vidas. Temos que falar sobre relações familiares, sociais, biológicas e principalmente sobre a saúde mental.
Os casos de suicídios entre os jovens aumentaram consideravelmente nos últimos anos. No Brasil, o suicídio é a quarta causa mais comum de morte de jovens. Como os pais podem ajudar seus filhos adolescentes?
Entre 2000 e 2019, segundo a OMS, o suicídio aumentou entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio aparece como a quarta causa de morte mais recorrente, atrás de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. O consumo de álcool e substâncias psicoativas durante a infância e adolescência possuem relação direta com casos de suicídio entre jovens. A restrição do sono também é um fator relevante para a manutenção da saúde mental de modo geral, mas principalmente quando relacionada a crianças, adolescentes e o desenvolvimento infanto-juvenil.
Entre as crianças e adolescentes, os pais precisam ficar atentos aos seguintes sinais:
- Mudanças na rotina do sono (insônia ou alteração de horários para dormir e acordar);
- Isolamento da família e do contato social de forma repentina;
- Comentários como ‘eu prefiro morrer do que passar por isso’;
- Uso de roupas de mangas longas, mesmo quando está calor, comportamento que pode indicar marcas de automutilação nos braços ou antebraços;
- Diminuição do rendimento escolar.
Toda fala ou ameaça de suicídio deve ser levado à sério. O suicídio é um importante problema de saúde pública, com impactos na sociedade como um todo. Se informar para aprender e ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave. É muito importante que as pessoas próximas saibam identificar que alguém está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está disponível para ajudar e demonstrar empatia, mas principalmente levando-a ao médico psiquiatra, que vai saber como manejar a situação e salvar esse paciente.
“Então, vamos ajudar na prevenção ao suicídio, nos atentando a familiares e amigos próximos. Falar sobre o assunto é uma forma de proteção e cuidado! Agradecemos à psicóloga clínica, doutora Mônica E. S. Lipay”, concluíram os membros da direção do Rotary Club de Cândido Mota.