Os terremotos que ocorreram e ainda ocorrem na Turquia e na Síria, reservadas as proporções, trazem efeitos tais quais os deslizamentos de encostas no Litoral Norte de São Paulo: desabrigados, desalojados e mortos.
Porém, as causas são completamente diferentes.
Os terremotos são oriundos da movimentação constante das placas tectônicas que formam os continentes, sólidos e rígidos, da crosta terrestre e que “bailam” sobre o manto terrestre formado por rochas incandescentes e pastosas do magma que existe em profundidade de 40 quilômetros em média e devido às forças internas de pressão das camadas de cima e aumento da temperatura até uma média de aproximadamente 1.000 graus centígrados.
Já os deslizamentos são oriundos da movimentação do solo e rochas soltas sobre grandes infiltrações de água de chuvas fortes e frequentes em encostas geralmente acima de 45 graus de inclinação. São melhor definidos como resultado do movimento gravitacional de massa, que é o deslocamento encosta abaixo, de solo e fragmentos de rocha devido à força da gravidade. Fatores como a declividade da encosta, intemperismo, clima, conteúdo de água, vegetação e sobrecarga são inter-relacionados e afetam a movimentação de massa.
Os terremotos não dependem da influência do ser humano sobre o planeta. Mas os deslizamentos, com certeza. A ocupação desenfreada de áreas de alto risco geológico, como as encostas dos acidentados relevos do litoral paulista, são motivos decisivos dos movimentos de massa. Refletem as consequências das mudanças climáticas que se intensificaram nos últimos 50 anos. A população aumentou quase duas vezes e meia. As demandas por moradias, fontes de trabalho e renda, levaram à ocupação de regiões de alto risco no sopé das encostas próximas às paradisíacas praias do litoral da principal metrópole latino-americana. Os paulistanos, com alto poder aquisitivo, em busca de lazer e fuga à estressante vida da capital, buscando refúgios temporários nas serranias com a Mata Atlântica e praias, viajam relativamente não longe para encontrar as localidades costeiras com boa infraestrutura de turismo, nos municípios lindeiros da costa atlântica de Bertioga, São Sebastião, Caraguatatuba e Ubatuba. E os prestadores de serviços e trabalhadores em geral, não tendo opção digna de moradia em terrenos firmes, acabam construindo como podem, no sopé e encostas íngremes da serrania costeira, as suas casas familiares.
Evidente contraste social que se repete e tipifica o Brasil em todas as regiões.
No ponto de vista da Geologia, reservadas as diferenças marcantes sobre as causas das tragédias naturais humanas entre os terremotos e os deslizamentos costeiros, fica aqui nossa contribuição, como geocientistas, em explicar as causas da dinâmica interna e externa das forças gravitacionais do Planeta Terra sobre a humanidade.
No ponto de vista da política, onde não devem haver diferenças ideológicas nesses momentos de sofrimento humano, como exemplarmente demonstram os governos de São Sebastião, do Estado de São Paulo e do Brasil, fica a lição de que tais forças devem concentrar esforços e recursos na previsão, prevenção, planejamento e gestão territorial para evitar a remediação, quase sempre, com altos custos financeiros e materiais e irreparáveis custos do imensurável bem da vida das pessoas e de todos os animais que vivem sobre a face do Planeta: uma Terra ‘viva’, vulnerável a terremotos e deslizamentos e susceptiva a tragédias – naturais dos terremotos ou antrópicas dos deslizamentos.
- José Reynaldo Bastos da Silva é geólogo, advogado e colaborador voluntário de O Diário do Vale.