Se tens que lidar com a água, consulte primeiro a experiência, depois a razão.
Ao fugir da fome na Europa, em meados do séc. XIX, Herr Blumenau recebeu duas orientações: rumar ao Brasil onde já havia imigrantes alemães e tomar cuidado com os indígenas do Vale do Itajai-Açu: “ muito violentos”.
Chegou em setembro de 1850. Subiu o rio com cuidado. Os indígenas habitavam um platô. Ele se estabeleceu na margem oposta . Com dezessete companheiros e famílias.
Plantaram e colheram. Sempre monitorando os indígenas. Passados dois anos, eles não atacaram, nem deram o ar da graça.
Tomou coragem e resolveu visitar a tribo. Levou presentes. O cacique recebeu aqueles brancos loiros e altos.
Sentiu-se acolhido. Falou das vicissitudes na Europa, das razões de migrar ao Brasil: do mau jeito de terem se assentado em suas terras.
Ficou espantado quando o cacique lhe disse: “ aquelas terras não são nossas”!
Herr Blumenau perguntou: “ então, de quem são”?
O cacique respondeu:” são das águas” .
A história daí em diante é conhecida. E lembrada quase regularmente a cada 15 anos no Vale do Itajaí, como agora em Porto Alegre.
Obs.: cópia de documento de E. de Miranda apud F. Bussinger.
Como sabemos, os indígenas já habitavam esse continente, do norte ao sul, há milhares de anos.
Conheciam muito bem as terras, os rios e o sistema de chuvas.
Considerei esse texto profético.
A grande diferença, sempre respeitaram o meio ambiente. O solo era sagrado para eles. Delas extraíam o seu sustento. Adotavam um sistema rotativo do uso da terras. Não repetiam plantações no mesmo lugar para não enfraquecer o solo. Mudavam-se de lugar e deixavam a terra descansar. Respeitavam a flora e a fauna. Sabiam que aquele local recebia a agua dos inúmeros rios e que os mesmos ficavam mais volumosos após as chuvas.
Como aconteceu a ocupação dessas terras?
Quem estudou, sabe.
Da forma mais desenfreada , gananciosa e destruidora possível.
Estarrecida com os acontecimentos catastróficos do Rio Grande do Sul ( atentem para o detalhe: Rio Grande), procurei entender as razões de cheias desproporcionais que se repetem há muito tempo..
A primeira de grandes proporções foi a de 1941. A do ano passado também devastadora.
A desse ano, não tem qualificativo.
Podemos chegar à conclusão que não é somente a questão climática.
Vemos que são vários os motivos e históricos.
Um importante fator a destacar também é o das políticas públicas.
As medidas adotadas pelos governos que se sucederam na região estavam totalmente defasadas. Caducas, impossíveis de enfrentar um grande volume de chuvas.
Cidades esponja.
Esse será o objeto do próximo artigo.
Elda Cecilia Bolfarini Jabur é professora de História, estudante Rosacruz, artista plástica, contadora de estórias e poeta nas horas vagas.