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Terra viva: Terremoto em Marrocos. Ciclone no Rio Grande do Sul

Artigo de opinião do Geólogo Mestre e Doutor pela UNESP e Pós-Doutor pela UNICAMP, em Geociências e Meio Ambiente, José Reynaldo Bastos da Silva.

O Planeta Terra está em constante movimento. Forças internas provocadas pela movimentação das placas tectônicas ao liberar alta energia concentrada nas bordas provocam terremotos. Forças externas provocadas pelo vento formam ciclones e trazem chuvas torrenciais momentâneas que elevam os níveis dos rios e provocam inundações.
Cá foi no Rio Grande do Sul resultando 46 mortes e somando 25 mil pessoas entre desalojadas (recebidas em residências não afetadas) e desabrigadas (recebidas em abrigos públicos). Lá foi no Marrocos resultando mais de 2 mil mortas e de 300 mil desabrigadas. Tanto uma quanto outra são tragédias naturais que provocam caos social de grande extensão territorial.
O ciclone extratropical se caracteriza por ser uma área de menor pressão atmosférica (em relação ao ambiente do seu entorno), em que os ventos giram ao redor do centro, em sentido horário. Em geral, eles estão associados a frentes frias que avançam por áreas de temperatura mais elevadas, no caso, vindas do Polo Sul. O ciclone extratropical que chegou na segunda-feira, 04 de setembro, ao Sul do País, com rajadas de vento de até 100 km/h, foi mais um forte indício de que o fenômeno pode estar se tornando mais intenso em 2023/2024 por causa do El Niño que traz chuvas anormais no sul e seca no norte do Brasil, e também das mudanças climáticas em curso no Planeta em virtude do período geológico interglacial em que vivemos. A Meteorologia tem avançado muito com os atuais modelos matemáticos de previsão do tempo.
Mas ainda não existe tecnologia para prever terremotos porque são ondas sísmicas de alta energia que se propagam de baixo para cima e para os lados de um ponto central de ruptura da crosta terrestre chamado de holocentro. Este ponto projetado na superfície do local chama-se epicentro. A única ferramenta que se tem para se precaver dos terremotos é o mapa de risco geológico, que é calculado probabilisticamente com base nos terremotos ocorridos nos últimos 200, 300 anos numa região. No caso, o epicentro estava nas montanhas da Cordilheira do Atlas a 70 km sudoeste de Marrakesh e a 20 km de profundidade. Região de pouca informação sismológica, o que favoreceu ainda mais o efeito surpresa do terremoto. Essa cadeia de montanhas se eleva justamente pela colisão das placas da Eurásia sob a África. Ali, a energia acumulada naquela falha geológica gerou uma fratura com cerca de 25 quilômetros de comprimento e 20 quilômetros de largura, num deslizamento de empurrão de 1,50 metros, conforme calculado pelo U. S. Geological Survey (USGS), o Serviço Geológico dos Estados Unidos. Há uma fronteira geológica entre o sul da Espanha peninsular e o norte de Marrocos que respectivamente separam as placas tectônicas da Eurásia e da África, nas proximidades do Estreito de Gibraltar
Coincidentemente, o meu orientador de mestrado e doutorado na UNESP de Rio Claro, o Geólogo Prof. Dr. Alexandre Perinotto, estava em Marrakesh participando de uma Conferência da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) sobre Geoparques onde apresentou o trabalho de caracterização e reconhecimento do Geoparque de Corumbataí. Geoparques são regiões com registros didáticos dos fenômenos geológicos à vista dos visitantes ou turistas e que podem melhor explicar a evolução do Planeta Terra na sua dinâmica interna (os terremotos e vulcões) e na sua dinâmica externa (as mudanças climáticas). E que podem elucidar no presente o nosso passado geológico, tal qual sabermos que o terremoto em Marrocos e a inundação do Sul do Brasil são evidências de que estamos numa Terra Viva.

* José Reynaldo Bastos da Silva é Geólogo Mestre e Doutor pela UNESP e Pós-Doutor pela UNICAMP, em Geociências e Meio Ambiente.

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